Quando as pessoas pensam na Harley-Davidson, pensam em V-twins (embora também existam muitas motocicletas que não são da Harley com V-twins) e muscle cars americanos. Mas, para uma empresa tão definida pela tradição, ela também tomou algumas decisões de negócios surpreendentemente fora da marca ao longo dos anos. Além das grandes motos de turismo e das softails de estilo rebelde (não confundir com as hardtails), a Harley-Davidson possuiu ou controlou diversas marcas de motocicletas que eram muito diferentes de sua identidade principal. Algumas dessas mudanças foram sobre diversificação. Outras foram esforços para seguir tendências ou entrar em novos mercados. E embora todos esses empreendimentos sejam agora pouco mais do que notas de rodapé, cada um revela algo inesperado sobre o que a Harley estava tentando se tornar em diferentes momentos de sua história.
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Não estamos falando de acordos de motores ou parcerias de marketing. Essas eram marcas sobre as quais a Harley tinha controle real, seja por meio de aquisição ou propriedade total. Embora tenham terminado em saídas silenciosas ou explodido de forma dramática, todas elas têm uma coisa em comum: não eram o que você esperaria da Harley. Sejam as motos de corrida italianas de dois tempos ou as startups de motos esportivas, a Harley-Davidson fez algumas apostas ousadas fora da sua zona de conforto. E, como mostra esta lista, ela tentou ser mais do que apenas a rainha das cruisers.

Buell: A excêntrica marca de motos esportivas que a Harley tentou fazer funcionar
A Buell começou em 1983 como um projeto de paixão de Erik Buell, um ex-engenheiro da Harley-Davidson que queria construir motos esportivas americanas. Após uma curta vida útil de uma moto de corrida dois tempos em meados dos anos 80, a Buell começou a usar a Sportster da Harley em suas motos esportivas. A Harley percebeu. Em 1993, comprou uma participação minoritária. Em 1998, detinha 49% da empresa e, em 2003, assumiu o controle total.
Por um tempo, a parceria pareceu funcionar. Mas a Buell nunca foi um sucesso. Seus designs eram peculiares: chassis com combustível no chassi, freios com carga de torção zero (ZTL) e escapamentos rebaixados. Então veio a crise financeira de 2008. A Harley cortou custos drasticamente e, em 2009, fechou completamente a Buell (a empresa teve um crescimento de vendas decente, mas dependia de empréstimos com garantia imobiliária, que caíram em desuso desde a crise financeira global).
Erik Buell fundou a Erik Buell Racing (EBR) e, eventualmente, recuperou o nome Buell em 2021. A marca está de volta e fabricando motos novamente, desta vez com seu próprio motor V-twin de 1190 cc, não um motor Harley. Mas a era Harley-Buell continua sendo um dos capítulos mais ambiciosos (e frustrantes) da história de ambas as empresas.

MV Agusta: A aposta arriscada na Europa que saiu pela culatra rapidamente
Em 2008, a Harley-Davidson chocou a indústria ao comprar a MV Agusta por € 70 milhões. A fabricante era a realeza do automobilismo europeu. Produzia superbikes exóticas e de alto desempenho e carregava um legado construído pelo lendário Conde Domenico Agusta.
Mas o momento foi desastroso. Assim que a Harley fechou o negócio, a crise financeira global atingiu o mercado. As vendas despencaram em todo o setor e nunca se recuperaram completamente. Pior ainda, a MV Agusta já estava em dificuldades financeiras. A Harley passou os dois anos seguintes investindo na marca, incluindo o financiamento do desenvolvimento de uma nova linha F4 e Brutale, mas a reviravolta nunca aconteceu.
Em 2010, a Harley queria sair. Rápido. Ela vendeu a MV Agusta de volta para a família Castiglioni por um valor simbólico de € 1. A Harley perdeu milhões e deixou o cenário europeu de motos esportivas sem nada para mostrar. Desde então, a marca MV Agusta tem oscilado entre proprietários. Mais recentemente, fez parte da Pierer Mobility antes de retornar à família Sardarov em 2025. Mas a curta passagem da Harley pela MV continua sendo um dos seus maiores erros comerciais — uma marca que nunca se encaixou, comprada no pior momento possível.

Aermacchi: O esquecido experimento italiano de corrida de dois tempos
Em 1960, a Harley adquiriu o controle acionário da divisão de motocicletas da Aermacchi. A empresa era mais conhecida por fabricar motores de dois e quatro tempos de baixa cilindrada para o mercado europeu. A Harley precisava de uma resposta para as motos leves vindas do Japão, e essa era a sua aposta.
O resultado foi a linha Aermacchi Harley-Davidson. Produzia de tudo, desde motocicletas de 125 cc (a Harley também fabricou um modelo de 125 cc em 1948) até enduros de 350 cc e até algumas máquinas de corrida legítimas. A Harley as lançou para o mercado americano, na esperança de conquistar os pilotos mais jovens.
Funcionou, por um breve período. As motos de corrida construídas pela Aermacchi chegaram a ganhar vários títulos de Grand Prix na década de 1970, com Walter Villa no comando. Mas em 1978, a Harley estava farta. Vendeu a Aermacchi para os irmãos Castiglioni, que a transformaram na Cagiva. É um capítulo esquecido agora, mas por quase duas décadas a Harley construiu e vendeu motocicletas europeias de baixa cilindrada. Sim, até mesmo dois tempos. Não era a Harley como a maioria das pessoas a conhece, mas aconteceu.
Diego Pereira (Diego CM), apaixonado por motocicletas, um clássico e experiente viajante que já rodou metade do Brasil sobre duas rodas, com mais de 15 anos criando conteúdo para sites, blogs, Youtube e rede sociais.


